segunda-feira, maio 09, 2005

Mutilação sensorial, Performance-se da incomunicação ou Dia do Nada – por Thaís Regina

E assim mudos e com os corpos
Calados em sua singela
Carnificina de sal
Os dois seres são postos à frente
Com os sentidos mutilados.
Sarcasmo, sadismo ou masoquismo?
Talvez nenhum desses conceitos ocidentais
Possam descrever a incomunicação
Sensorial concedida, programada
Com lugar, hora e dia
Pré estabelecido, pactuado.
A visão: a mais significativa
Cosmovisão do nada,
Permanece estática em sua
Cegueira exterior.
Olhando-se para dentro das entranhas
Das vísceras, do varal de carne seca
Que habita o buraco posterior ao
Esôfago, o caminho da putrefação
Até dava pra escutar o
Barulho abatucado do tímpano
Reagindo ao silêncio das
Memórias.
Pra dentro e pra trás:
A película movimenta-se
Como se querendo
Fugir da morbidez auditiva
Sem conseguir, afinal.
Quando não se tem o que dizer
Ouvir torna-se estritamente
Desnecessário, desinteressante
Desaconselhável.
O emudecimento faz
Do som dos fonemas
Uma parede de tijolos
E concretos
Tal muro de Berlim
Só que mais endurecido
Pelo vazio silábico
Que as verdades
Acreditam ter.
A sonoplastia perde
Seu ato principal
E aí só se apresenta com os
Coadjuvantes e um cenário de
Gesso, papel crepon e
Roupas sem conteúdo dérmico-carnal.
Nada mais será dito sobre nada.
Para ver?
Existe uma antiga fonte sem água
Numa praça contendo galinhas
E camelôs,
Mas que ao entardecer noturno
Torna-se a desmemorialização corpórea
Do absurdo: a praia de nadismo; o jardim dos pombos
Diga-me o que pensas
E eu não te direi quem és.

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