terça-feira, maio 03, 2005

jornal de londrina

PERFORMANCE - Grupo de artistas locais promove o Dia do Nada na Praça Rocha Pombo
A arte de fazer nada
Participantes querem provocar reflexão sobre o trabalho realizado de forma mecânica e sem prazer

“E a sopa de hoje, vai ficar boa?” perguntou a aposentada Holanda Moreira, 65 anos, em meio à Praça Rocha Pombo (Região Central), no início da tarde de ontem. Holanda se referia à sopa “preparada” dentro de um latão de tinta sobre uma pequena fogueira. Na lata estavam os únicos ingredientes: água e pedras. A instalação era parte do Dia do Nada, evento promovido desde 2002 por um grupo de artistas sempre um dia após o Dia do Trabalho. A idéia principal, segundo eles, é promover um dia de reflexão sobre os trabalhos realizados de forma mecânica ou sem prazer. Holanda Moreira foi uma das pessoas que ontem passaram pela praça e entraram em contato com o grupo de artistas. Em anos anteriores, a proposta foi se entregar ao ócio; agora, os artistas realizaram várias instalações e projetos de arte. Ainda bem confusa, a aposentada resolveu assistir à movimentação e se assustou com um rapaz sentado em uma cadeira sendo amarrado, amordaçado e vendado. “E quanto tempo ele vai ter para se desamarrar? Ele é mágico?” O rapaz amarrado realizava uma “performance da incomunicabilidade. É o fomemiséria”, como definiu o artista plástico Rubens Pileggi, um dos organizadores do Dia do Nada. Havia outras instalações, como um varal onde roupas “engomadas” com gesso enfeitavam as árvores. Junto com uma rede para descansar, o varal fazia um mosaico das propostas colocadas pelo grupo. “Cada vez mais é claro para mim que esse dia é um suspensão do real dentro dessas rotinas normais”, completou Pileggi.O Dia do Nada ainda preparava outras surpresas ou propostas para as pessoas que desaceleravam a caminhada, enquanto atravessavam a praça e observavam os acontecimentos. Os usuários mais comuns do local também permaneciam nos bancos da praça. A previsão era de que as pessoas fizessem um nudismo voluntário em praça pública, no projeto “Corpo sem roupa, roupa sem corpo”. “A coisa do nu é representada na arte desde a Grécia antiga”, defendeu o artista.Mas, até o momento que a reportagem do Jornal de Londrina ficou no local, ninguém havia realizado um nu artístico. Também não teve muito movimento a Parada Gay idealizada pelos artistas para acontecer durante à tarde, nas escadas da Catedral de Londrina. Nenhuma pessoa foi vista envolvida no movimento. “É um conceito não autoral, não organizado e não artístico”, prontamente defendeu o proponente da parada, o artista Tadheo Amélio.Segundo ele, as pessoas estariam convidadas a participar da parada para expor suas opiniões sobre a Igreja Católica, mas nada foi marcado com nenhum grupo e ou representantes de associações. “Não é gincana. Eu propus isso para que sejam levantadas questões como o fechamento das portas da igreja os homossexuais”, completou Amélio. Enquanto isso os policiais que fazem a ronda na região pararam para observar o que chamava atenção dos pedestres. Tudo tranqüilo; eles logo voltaram à rotina normal de trabalho. Então apareceu mais uma pessoa curiosa. E sapecou algumas perguntas para os artistas. “Perguntei o que era isso. Me disseram que era Dia do Nada”, contou Takeshi Shirochi, 73 anos.Questionado se aprovava um Dia do Nada, ele foi prático. “Todo dia tem alguma coisa para fazer. Dia do Nada é bom para nadá (nadar)”, disse ele carregando no acento nipônico. A reportagem do JL ainda tentou fazer mais algumas pergunta a Shirochi, mas ele respondeu. “Não tenho tempo. Tenho que correr atrás do dinheiro. Deixa os artistas fazerem arte e a gente trabalhar.”–
Fernando Araújo

© Rede Paranaense de Comunicação. Todos os direitos reservados.

Nenhum comentário: