sábado, maio 14, 2005

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O bem-bom é bem chato
NADA ao contrário é ADAN. Palavra muito próxima de Adão, o primeiro homem, que vivia no bem-bom lá no Paraíso, até provar do fruto proibido. Sua punição – e a de Eva, outra até então desocupada – foi a de ganhar o pão com o suor do próprio rosto. E nós pagamos a conta até hoje.O castigo de Adão, no entanto, pode ser transformado em benção. Desde que o trabalho não represente um fardo, ou um simples acúmulo de atividades inúteis. Triste mesmo foi o destino de Sísifo, obrigado pelos deuses a carregar uma rocha até o topo de montanha e, uma vez lá, assistir à rocha deslizar montanha abaixo, todos os dias, para sempre.Ontem, um pessoal aqui de Londrina realizou o Dia do Nada – uma espécie de Dia do Trabalho às avessas.Freud dizia que só o trabalho e o amor dão algum sentido à existência. Assim como não vejo no ódio uma solução para as angústias amorosas, não acredito que os problemas do trabalho sejam resolvidos através de uma apologia da nadificação (olha aí uma palavrinha sartreana). O que foi o Dia do Nada? Teve uns caras amarrados em cadeira na praça; um pessoal tocando violão; um sujeito preparando sopa de pedra. Houve até dois ou três que se deram mal por exibirem as partes. Os peladões foram parar no xilindró.Ah, passa amanhã! Essa história de Dia do Nada é muito hipponga, muito bicho-grilo pro meu gosto. Lembra em demasia aquelas performances (ou happenings) da década de 70. E mesmo essas performances já eram um remendão do velho surrealismo. Com a licença do meu querido Grota, isso é uma tremenda falta de enxada! Assumida. Por falar em anos 70, quando eu era criança achava que os dias úteis deveriam ser o final de semana e vice-versa. Hoje sei que se isso acontecesse o mundo ficaria muito chato. Viveríamos endomingados. É preciso um pouco de ócio para todo mundo, mas uma vida só de ócio seria um tédio.Certa vez um vizinho de Jorge Amado viu o escritor baiano todo sujo de barro, podando as plantas no jardim de sua casa. O homem perguntou:– Trabalhando, seo Jorge?– Não. Tô descansando.No outro dia, o mesmo vizinho pegou Jorge Amado deitado na rede:– Descansando, seo Jorge?– Não. Tô trabalhando.Eu não gosto do Jorge Amado, mas a historinha é ilustrativa. Trabalhar pode ser uma coisa tão boa quanto podar plantas ou escrever livros. O bem-bom é que é bem chato. A não ser que seja no Kotovelo´s Bar. Ou no blog.

paulo briguet

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