segunda-feira, março 14, 2005

ode à preguiça - por Gusmão Figueiredo

Não é curioso que o desprezo pela preguiça e a extrema valorização do trabalho possam existir numa sociedade q não desconheça a maldição q recai sobre o trabalho, visto q trabalhar é castigo divino e não virtude do livre-arbítrio humano? Aliás, a idéia do trabalho como desonra e degradação não é exclusiva da tradição judaico-cristã. Essa idéia aparece em quase todos os mitos q narram a origem das sociedades humanas como efeito de um crime cuja punição será a necessidade de trabalhar para viver. Ela também aparece nas sociedades escravistas antigas, como a graga e a romana, cujos poetas e filósofos não se cansam de proclamar o ócio um valor indispensável para a vida livre e feliz (...) Os vocábulos ergon (em grego) e opus(em latim), referen-se às obras produzidas e não à atividade de produzi-las. (...) A palavra latina q dá origem ao nosso vocábulo "trabalho" é "tripalium", instrumento de tortura para empalar escravos rebeldes e deriva de "palus", estaca, poste onde se empalam condenados. (...) Quando e por que se passou ao elogio do trabalho como virtude e se viu no elogio do ócio o convite ao vício, impondo-se negá-lo pelo neg-ócio?

Nenhum comentário: