quarta-feira, outubro 19, 2005

nicolau saião, de portugal

"A nudez tem um sinal de transfiguração religiosa. Religião vem de religare, que significa tornar a ligar. E a ligar o quê? O que, naturalmente, foi separado. Por entidades, pela natureza. Sim, mas fundamentalmente pelo mito que se dá como fundacional.

Assim sendo, a figura central da maior religião de re-ligação, a religião cristã e católica, é um corpo nu, o corpo de Jesus, o Cristo. Nu quando nasce e é exposto no Presépio, nu enquanto é baptizado no Jordão por João Baptista, nu quando na cruz expia a condenação a que foi submetido pelo poder enroupado (a roupa do sumo-sacerdote Kaiphás é decisiva e caracterizadora do poder de facto) judaico-romano.

Torturado na cruz, morto em estado de nudez (embora nos ícones apareça com uma faixa de tecido que lhe tapa as partes pudendas para que o beatério não se sinta afrontado) Cristo desce ao sepulcro e aí permanece envolto num lençol de linho cru até dali ser resgatado pelos dois anjos do Senhor que o retiram nu do mausoléu para depois o cobrirem com um manto não conspurcado pela morte.

Nu no seu corpo divino e humano, igualmente se nos apresenta nu - ou seja, despido - de mentiras, de preconceitos, de hipocrisias e de cizânias enquanto ser de espírito e de intelecto, logo de razão que vai além da desrazão que constituíra o suplício, a Paixão.

Nesta perspectiva, o ódio que os manipulados pela hierarquia e os próceres dessa mesma Hierarquia manifestam pelo corpo nu do Homem (e Cristo foi Deus mas também Homem) só pode ser de origem satânica, relapsa, infra-universal, contrária ao lema de Cristo e à sua mensagem sublime de bondade, de paz e de concórdia.

Nesta perspectiva, ao traçar estas linhas em vista a exautorar os que o prenderam e o buscam condenar, exprimo o meu repúdio por esses manejos autoritários e o meu apoio a Rubens Pillegi.

Nicolau Saião, escritor e publicista"

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