quinta-feira, maio 08, 2014

Bolhas de Sabão - por Célia Musilli


O Nada pode ser lúdico, fui fazer bolhinhas de sabão no Shopping Prado, em Campinas. Mal comecei um segurança veio falar comigo, incomodado. Estranhou a atitude num shopping, onde todos compram, comem, bebem. Expliquei do que se tratava, ele me disse: “Quando for assim a senhora deve falar antes com a administração.” Imaginem, falar com a administração para fazer bolhas de sabão e ainda dizem que o nonsense é meu.
Então, compreendi que o Dia do Nada é tudo aquilo que já dissemos: um movimento contra o trabalho obrigatório, o automatismo, a mais valia. Mas hj percebi que o “nadismo” vai além disso, mexe com estruturas postas , ainda que seja em manifestações das mais inocentes, como forma de intervenção urbana.
Pouco antes, no mesmo shopping, eu havia ficado quase uma hora numa fila de Correio, com um pequeno envelope com um livro para postar, enquanto vendedores postavam 30, 20 caixas antes de mim. Nada contra os vendedores, mas vi que as pessoas na fila têm uma atitude completamente bovina, ninguém reclama, todos suportam a espera de um serviço cheio de falhas. Então, o Dia do Nada é isso, um lembrete de que tudo está automatizado e que somos máquinas operantes, qualquer atitude diferente causa estranhamento, causa ruído. Nada mais urbano que um shopping, nada mais automatizado do que trabalhar para comprar e esperar em filas. Nada mais lúdico que uma bolha de sabão cortando o cenário da pasmaceira aprovada pela administração.
Ah! Se fossemos uns mil hj, enchendo o mundo de sabão e ilusão!
(Célia Musilli

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