quarta-feira, maio 03, 2006

ideologia da bagaça

Bem, o movimento gerou certas reflexões, este ano. Talvez pela presença do Cris e do Marcelinho, juntos. Talvez porque tenha caído em dia de feriado de 01de maio o DDN deste ano. Talvez porque é ano eleitoral e o troféu mosca morta agitou os ânimos críticos das pessoas que puderam votar livremente e usar o microfone para falar. Porque neste ano tinha aparelhagem para som e isto foi um grande diferencial em relação aos outros anos.

Algumas das reflexões se relacionam, evidentemente, com a questão do trabalho em nossa sociedade. Quando Cris propôs o emprego diário no trabalho, duas horas por dia, então foi detonado um processo dialético no evento, que superou a quantidade de pessoas que apareceram na frente do Banco do Brasil, no calçadão de Londrina, neste ano para ver e realizar o ócio.

Pensando nisso, preferi comemorar depois – já na saudação com a taça de vinho – o trabalho, segundo o conceito da física que diz que trabalho é a energia empregada por um corpo para se movimentar de um ponto A qualquer a um ponto B.
Ou seja, nesta concepção tudo é trabalho. E quando tudo está trabalhando, disso pode-se tirar uma constante e essa constante ser uma medida para Repouso.
Deixe-me explicar. Eu posso passar a vida empregando meu tempo em algo, trabalhando incessantemente, desde que eu tenha prazer e amor naquilo ao qual estou empenhado em realizar.
Um verdadeiro nadista não tem a intenção de ocupar ninguém em desenvolver máquinas de empregos que trarão o desenvolvimento e o progresso técnico a poucas pessoas que irão lucrar com isso, enquanto o planeta é violentamente degradado com mais poluição e doenças típicas de nossa sociedade industrial, consumista e capitalista. Ainda que seja para trabalhar duas horas por dia e passar o resto do dia na folga.
Aliás, por experiência própria, haja o que fazer quando se tem tanto tempo disponível para não se fazer nada!

Obviamente o Troféu Mosca morta foi para o presidente Lula, que ganhou de concorrentes fortes, como o prefeito, ou sindicatos que oferecem promoção de brindes e shows musicais para atrair os trabalhadores em manifestação do Dia do Trabalho. Houve discursos emocionados, chamando empresários e políticos de vagabundos, mas para quem está propondo um evento para saudar a vagabundagem, na hora do meu voto, fiz questão de lembrar que a maioria desses que estavam sendo chamados de vagabundos eram homens que trabalhavam, de fato, muito. Pessoas que acordam cedo, que dormem tarde, não tenho dúvidas. E que, de morto, eles nada têm. Ao contrário, se deixarmos as coisas caminharem no sentido que eles pretendem, quem vai acabar morrendo somos nós, que não somos tão espertos. O problema dessas pessoas, simplesmente, recai no fato de que seus interesses são contra os interesses da maioria da população. E por isso são nefastos.
Mas que, ali, um grande vagabundo era eu mesmo. E me orgulhava disso. Não acho que o Lula mereça meu voto. Menos ainda esses safados da direita ou da esquerda. O que penso é que devemos parar de acusar tanto essa grande geografia do poder e tentar unir forças que se encaminhem para algumas mudanças de atitudes no comodismo geral. Aprendemos a reclamar e agora precisamos aprender a propor soluções, também. Uma dessas propostas é a de não deixar o movimento ser apenas um evento que acontece anualmente, sem compromisso por parte das pessoas, aparecendo quem quiser, em um local combinado, achando graça não fazer nada. Isso é imbecil! É o contrário disso o que se deve propor. É a união de esforços para se afirmar enquanto veiculo de comunicação de um certo tipo de mensagem. De um certo tipo de se fazer política. De influenciar as opiniões. De procurar pactos, união de gente que pensa e sente como a gente. Usando as armas que se tem às mãos. Lutando durante 365 dias no ano. Esse papo de que o Dia do Nada é alienado. Ou, pior, que é um evento de artistas, não tem a ver com nossa proposta.
A diferença, é que o DDN aposta nas fissuras do sistema para se espalhar, para se expandir, para continuar sua contaminação, para envolver as medulas da ideologia dominante do trabalho. E não do confronto direto, porque isso seria a cooptação do que há de mais interessante em nossa maneira de agir, que é a ironia e a consciência crítica da realidade. Sórdida realidade.

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